Câmara de Cairu aprova empréstimo de R$ 75 milhões em votação unânime, mas clima de insatisfação marca vereadores

A Câmara Municipal de Cairu aprovou, nesta quarta-feira (04), por unanimidade dos 11 vereadores, o projeto de lei que autoriza o Executivo a contrair um empréstimo de R$ 75 milhões junto à Caixa Econômica Federal. A proposta, de grande impacto para as contas públicas do município, foi alvo de intensos debates nos últimos dias, a ponto de levar o prefeito ao plenário para detalhar a aplicação dos recursos e esclarecer aspectos legais da operação de crédito.

O peso político da votação

Embora a aprovação tenha sido unânime, a sessão foi marcada por discursos que revelaram tensões internas e expectativas quanto ao destino dos recursos. O líder do governo, vereador Diego Meireles, fez um pronunciamento considerado “cartilha”, reforçando o alinhamento com a gestão e apresentando os argumentos de defesa do projeto como um verdadeiro “dever de casa”.

Já o vereador Igor Gomes, que nos últimos dias esteve no centro de rumores sobre um possível rompimento com o grupo governista, surpreendeu ao discursar em tom firme. Ele afirmou que “ninguém mais do que ele sabe a destinação de parte desses recursos”, chegando a citar nominalmente o vereador Bruno, eleito pela oposição, em uma clara sinalização de força política e influência sobre os rumos da futura sucessão municipal.

Logo após a sessão, os bastidores ganharam ainda mais movimentação. Diego Meireles publicou em seus stories uma foto ao lado de Joglas, Bruno e do presidente da Casa, Pikui, em um gesto que repercutiu politicamente.

Foto no perfil do vereador Diego Meireles

Já no perfil oficial da Câmara, outra imagem registrava o presidente Pikui junto com Igor, Frank do Amparo e Antônio Paulo. Este último, durante seu discurso, fez duras críticas à gestão municipal, cobrando maior empenho do prefeito em relação ao Morro de São Paulo.

Foto no Instagram da Câmara

Ele relatou ter passado dois dias no distrito, onde ouviu reclamações de empresários locais, e pediu que o gestor não privilegie apenas um lado do município.

Expectativas e riscos

Com a autorização legislativa, o empréstimo segue agora para tramitação junto à Caixa Econômica Federal, onde será avaliado e liberado conforme critérios técnicos da instituição. Entretanto, nos bastidores, a grande questão é como o “bolo” desses R$ 75 milhões será repartido.

Vereadores esperam que parte dos recursos seja revertida em obras, serviços e melhorias em suas bases eleitorais, como forma de atender às demandas das comunidades que representam. No entanto, o semblante de insatisfação de alguns edis durante a sessão indicou que nem todos estão plenamente convencidos de que os acordos políticos firmados serão cumpridos.

A dimensão simbólica

A aprovação do empréstimo expõe também a delicada relação entre Executivo e Legislativo em Cairu. Para muitos parlamentares, apesar do voto favorável, paira a sensação de subordinação diante do Executivo. Como relatado por alguns observadores da sessão, “é triste olhar nos olhos de quem foi eleito pelo povo e perceber que, muitas vezes, é tratado como um mero bichinho de estimação, que só come quando o dono dá a comida”.

O que está em jogo

O endividamento de R$ 75 milhões representa uma das maiores operações financeiras já realizadas pelo município. Tecnicamente, o recurso só poderá ser liberado mediante comprovação de capacidade de pagamento, análise de risco e definição de projetos específicos que justifiquem a aplicação.

Do ponto de vista político, no entanto, a votação abre uma nova fase: a expectativa de como os investimentos serão planejados, a transparência na execução e, sobretudo, como os dividendos políticos dessa operação vão impactar a disputa pela sucessão municipal em Cairu.