“Vereador fala, o fogo responde: Diego Meireles minimiza falta de estrutura em Morro de São Paulo após novo incêndio”
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Atualizado: há 22 horas

Na manhã de 16 de outubro de 2025, a Pousada da Torre, na Segunda Praia de Morro de São Paulo (município de Cairu/BA), foi atingida por um incêndio que, segundo relatos, foi contido principalmente por moradores, turistas e guias turísticos, com baldes de água e esforço coletivo, antes da chegada dos bombeiros.
A demora e a dependência de corpo de bombeiros deslocados de Valença — cidade vizinha que abriga um batalhão — deixam evidente o descompasso entre o discurso político e a realidade estrutural. O fogo não deixou feridos, mas o alerta acendeu a indignação de proprietários de pousadas, comerciantes e da população local.
Discursos infundados e responsabilidades reais
Durante a sessão da Câmara de Vereadores de Cairu em 17 de outubro, o vereador Diego Meireles referiu-se ao episódio do incêndio e afirmou que a responsabilidade para atendimento desse tipo de ocorrência é do Estado. Em parte, isso é verdadeiro — o Corpo de Bombeiros é uma estrutura estadual — mas é um argumento incompleto que ignora as falhas locais e a omissão municipal perante os riscos recorrentes.
Em sua fala, o edil também cometeu equívocos técnicos ao afirmar que “o bombeiro é uma extensão da polícia”, quando na prática se trata de corporação distinta, com funções específicas de defesa civil, prevenção e combate a incêndios. Confundir ou subestimar essa distinção revela desconhecimento técnico inadmissível em debate público.
Adicionalmente, anunciou a intenção de realizar concurso para aumentar o efetivo da Guarda Municipal. Embora seja positivo o investimento em segurança local, atribuir à Guarda a missão de combate a incêndios é uma distorção do papel constitucional desse corpo. A Guarda Municipal deve zelar por patrimônio público, colaborar na segurança urbana, manter ordem e proteger bens municipais, mas não é substituta de bombeiros ou corporação técnica de emergência.
Propostas coerentes e exigências urgentes
Se o discurso parlamentar pretende avançar além da retórica, são essas algumas das medidas que deveriam ser articuladas com urgência:
1. Instalação de um posto avançado de bombeiros em Morro de São Paulo
Dada a ilha ter fluxo intenso de turistas e risco elevado de incêndios em áreas de vegetação, empreendimento comercial e edificações antigas, um posto avançado faria diferença decisiva no tempo de resposta.
2. Criação ou fortalecimento de brigada / corpo de bombeiro civil local
Em locais onde não é viável instalar um batalhão completo de imediato, pode-se constituir brigadas civis treinadas e equipadas, integradas com suporte estadual e municipal.
3. Equipamentos estratégicos de hidrantes, reservatórios ou redes de água estratégica
Obras de infraestrutura que garantam pontos de água (hidrantes, cisternas, tubulações) distribuídas em zonas críticas da ilha são essenciais para dar suporte ao combate inicial.
4. Convênios e cooperações intermunicipais e com o estado
Formalizar acordos com o Corpo de Bombeiros da Bahia, com municípios vizinhos (como Valença) e com órgãos estaduais para garantir prontidão, treinamento conjunto e logística de apoio.
5. Campanhas preventivas de conscientização e fiscalização ambiental
Educação comunitária, fiscalização de descarte irregular de lixo ou fogueiras, poda de vegetação seca, controle de materiais inflamáveis próximos a construções — tudo isso reduz o risco de novos incêndios.
Contra narrativas vazias: cobrar atitudes
A história recente de Morro de São Paulo já registrou outros incêndios de grandes proporções em empreendimentos comerciais, restaurantes e pousadas, sem, contudo, promoção de políticas públicas estruturadas para prevenir ou responder.
Portanto, não basta erguer discursos em sessão de Câmara responsabilizando o Estado federal ou estadual sem apresentar o que o município pode fazer hoje. E o vereador que lidera ou participa desse tipo de debate deve ter obrigação de entender a arquitetura institucional dos bombeiros, a responsabilidade multilayer (municipal, estadual) e, sobretudo, cobrar ações e propor projetos viáveis, não só críticas vazias.
O verão se aproxima, a ilha estará mais movimentada, e não se pode esperar pelo “próximo incêndio” para aí tomar providências. Mudar isso exige coragem política, competência técnica e responsabilidade concreta — não meras falas de efeito.
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