Quando a Prefeitura Vira Estúdio de TV

Nos últimos tempos, parece que a principal obra de algumas prefeituras não está em praças, ruas ou escolas, mas sim… na produção de mídia. São vídeos bem editados, slogans ensaiados, fotos com filtro e legendas motivacionais. Tudo muito bonito — pena que só na tela.

Enquanto a propaganda corre solta, a população corre atrás de saúde, infraestrutura, emprego e segurança. Falta remédio no posto, mas sobra câmera na inauguração da placa. Buraco na rua ninguém tapa, mas vídeo institucional tem trilha sonora digna de novela.

É a era da “prefeitura influencer”: prefeitos e prefeitas que, em vez de governar, viraram apresentadores de programa. Só falta abrir canal no YouTube com bordão de abertura.

Claro, comunicação é importante. A população precisa ser informada. Mas quando a mídia vira o centro da gestão, fica a pergunta: quem governa de verdade — o chefe do executivo ou o editor de vídeo?

Município não se administra com likes, e povo não se alimenta com reels. É preciso inverter a lógica: primeiro resultado, depois divulgação. Do contrário, o marketing político acaba sendo um outdoor digital da falta de ação.

No fim das contas, não é mídia que resolve as necessidades da comunidade — é gestão séria, presente e responsável. Até porque, na vida real, filtro não tampa buraco.