Cairu em Ebulição: a guerra silenciosa que já projeta 2028

A Câmara de Cairu vive uma das fases mais tensas de sua história recente. A aprovação unânime, mas cautelosa, do empréstimo de R$ 75 milhões junto à Caixa Econômica Federal revelou, além de um clima de receio de represálias do Executivo, a verdadeira engrenagem de poder que já se movimenta nos bastidores.

O jogo não é apenas legislativo: trata-se de uma disputa pelo futuro político do arquipélago e pela sucessão municipal de 2028. No centro dessa guerra estão dois nomes: Diego Meireles e Ígor Gomes. Jovens, carismáticos em seus espaços de influência e cada vez mais em rota de colisão, eles representam duas formas distintas de se fazer política em Cairu.

Diego Meireles — O herdeiro transformado em fenômeno de votos

Diego fez história em 2024 ao se tornar o vereador mais votado de todos os tempos em Cairu. Jovem e ativo nas redes sociais, conquistou a confiança da base popular, principalmente nas ilhas mais movimentadas pelo turismo.

Sobrinho do ex-deputado Hildécio Meireles, Diego carrega o peso e a força de um sobrenome consolidado. O apoio da família lhe garante acesso ao núcleo do grupo de ACM Neto, além de abrir portas em Salvador e em Brasília.

Mas se, por um lado, sua ascensão foi meteórica, por outro Diego enfrenta críticas: ainda é visto como dependente da influência familiar e, na votação do polêmico empréstimo, transmitiu imagem de submissão ao Executivo. O desafio é claro: romper a sombra da família e se afirmar como liderança própria até 2028.

Ígor Gomes — O estrategista silencioso de Boipeba

Do outro lado está Ígor Gomes, forjado politicamente em Boipeba e que hoje ocupa a vice-presidência da Câmara. Discreto, prefere o bastidor ao palanque. E é justamente essa habilidade de articulação que lhe abriu espaço na Mesa Diretora e consolidou sua imagem como liderança em ascensão.

Ao contrário de Diego, Ígor não é herdeiro político. Sua força está em alianças cuidadosamente construídas, em especial com a ex-primeira-dama Cíntia Rosenberg, que mantém laços estreitos com o governador Jerônimo Rodrigues (PT). Essa aproximação coloca Ígor como ponte entre Cairu e o núcleo do poder estadual. Vale destacar que, nos bastidores, comenta-se que a articulação de Cíntia com o Governo do Estado pode se consolidar, mas nada ainda é certo.

Sua fragilidade, no entanto, está na baixa projeção popular fora de Boipeba. Diferente de Diego, que já carrega multidões, Ígor ainda precisa conquistar o eleitorado comum para transformar articulação em votos.

A pimenta no jogo: Hildécio, Cíntia e o embate estadual

A disputa municipal em Cairu se conecta diretamente com a política estadual.

Hildécio Meireles prepara seu filho Rafael Meireles como pré-candidato a deputado estadual em 2026, reforçando laços com ACM Neto. Além disso, Rafael Meireles, há especulações de que ele possa ser testado para 2028 como candidato a prefeito de Cairu.

Cíntia Rosenberg, ex-mulher de Hildécio, tornou-se peça-chave da base governista local e circula próxima do governador Jerônimo Rodrigues. As postagens nas redes sociais não escondem a divisão: Diego com Hildécio e ACM Neto; Ígor com Cíntia e Jerônimo, embora essa articulação ainda seja vista como possibilidade nos bastidores, sem confirmação oficial.

Essa divisão aprofunda a guerra interna. O que antes era um jogo de alianças hoje se desenha como choque inevitável entre dois projetos de poder.

Linha do tempo da disputa

2024: Eleição consagra Diego como fenômeno de votos; Ígor assume vice-presidência da Câmara.

2025: Câmara aprova empréstimo de R$ 75 milhões em clima de receio. Primeiras fissuras entre Diego e Ígor aparecem nos bastidores.

2026: Ano eleitoral. O resultado da disputa pelo Legislativo estadual será decisivo. Se Diego ou Rafael forem eleitos, ganham musculatura; se a base de Jerônimo avançar, Ígor cresce com Cíntia.

2027: A sucessão da presidência da Câmara vira um ensaio para 2028.

2028: A disputa pela Prefeitura de Cairu coloca frente a frente herdeiros e estrategistas em uma eleição que promete ser histórica.

O choque inevitável

Cairu caminha para um confronto político sem precedentes. De um lado, Diego Meireles, herdeiro de um clã tradicional, com a força de votos e o apoio de ACM Neto. Do outro, Ígor Gomes, o articulador de bastidor, que cresce com o apoio do governador Jerônimo e a articulação de Cíntia Rosenberg. Também surge a possibilidade de Rafael Meireles ser testado como alternativa para 2028, o que adiciona mais uma peça à complexa disputa.

O que hoje parece apenas disputa por espaços na Câmara já se transformou em batalha pela sucessão municipal. A população observa, as alianças se movem e os bastidores fervem. Uma coisa já é certa: em 2028, Cairu não será a mesma.