Alerta Social: Crianças Voltam a Vender nas Barracas da Praia do Guaibim
- edmaisfmsite
- 21 de set.
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“Lugar de criança é na escola.” A frase, repetida ao longo de gerações, parece ter perdido espaço na Praia do Guaibim, em Valença. O que deveria ser uma lembrança do óbvio — o direito à educação, ao lazer e à infância — hoje é confrontado pela realidade dura: crianças de apenas 7 a 13 anos circulando entre as barracas, oferecendo doces, salgados e pequenas mercadorias em troca de alguns reais.
No último sábado (20), a cena se repetiu diante dos olhos de quem passa pela orla. Entre elas, um menino de 11 anos, que ao ser questionado sobre o motivo de estar ali, deu uma resposta que revela o peso da vida adulta empurrada precocemente para os ombros infantis:
“Melhor vender do que traficar ou roubar.”
A frase denuncia duas violências ao mesmo tempo: a ausência de oportunidades e a naturalização do trabalho infantil em plena luz do dia.
Infância trocada por sobrevivência
As histórias se repetem. Uma menina de 7 anos e outra de 10, já conhecidas de frequentadores do Guaibim, circulavam oferecendo cocadas. “Tio, compra uma na minha mão pra eu ir pra casa”, pediam com a mesma insistência de outras ocasiões. O apelo infantil não é apenas comercial, é quase um grito de socorro.
Segundo informações obtidas junto à Associação de Barraqueiros da praia, as crianças são conhecidas no local. A justificativa, no entanto, é ainda mais alarmante: muitos pais as obrigam a vender apenas para garantir dinheiro destinado ao consumo de bebidas alcoólicas. Situação que, além de cruel, deveria acionar imediatamente a rede de proteção social existente no município.
A resposta do poder público
Procuradas, algumas autoridades municipais se esquivaram da responsabilidade. O secretário de Turismo afirmou que o tema cabe ao Conselho Tutelar. Já o secretário de Indústria e Comércio, contatado pela reportagem, não retornou ao pedido de posicionamento.
No entanto, o prefeito Marcos Medrado, em contato telefônico com nossa equipe, destacou que a Ação Social tem realizado ações de combate ao trabalho infantil e que o município não ignora o problema. A fala do gestor reforça a necessidade de dar mais visibilidade a essas iniciativas, de modo que a população perceba os resultados e que as crianças, de fato, sejam retiradas dessa situação de exploração.
O incentivo perverso
Se por um lado há a omissão ou a lentidão do poder público, por outro também existe a conivência de parte da sociedade. Um comerciante do Guaibim, dono de uma barraca, resumiu sua visão:
“Melhor trabalhar do que roubar.”
A frase, repetida como justificativa, ignora um ponto essencial: não é papel da infância escolher entre a exploração e o crime. O lugar de uma criança não é no tráfico, tampouco no trabalho forçado — é na escola, brincando, aprendendo, vivendo sua idade.
Um retrocesso que não pode ser normalizado
Nos anos 1980 e 1990, ainda era comum ver blitz da Vara da Infância ou de órgãos de fiscalização percorrendo bares e espaços públicos para coibir a presença de menores em locais impróprios. Hoje, essa prática parece ter sido esquecida, enquanto os problemas se agravam.
O que se observa no Guaibim é um retrocesso social que expõe falhas graves do sistema de proteção à infância em Valença. A permanência de crianças trabalhando em plena praia é um retrato do descaso histórico com o tema, da falta de fiscalização efetiva e da naturalização de uma realidade que deveria chocar a todos.
Não se trata de condenar as crianças, tampouco os comerciantes que se aproveitam de sua força de venda. O problema é estrutural. E, embora o prefeito afirme que a Ação Social vem atuando, é preciso que a rede de proteção — Conselho Tutelar, Ministério Público, Juizado da Infância e demais órgãos competentes — atue de forma coordenada e visível.
A cobrança que fica
O turismo é um dos motores econômicos de Valença, e a presença de crianças vendendo em plena praia mancha a imagem do município e, pior, rouba de centenas de meninos e meninas o direito de viver a própria infância.
A sociedade precisa refletir: até quando vamos fechar os olhos para a exploração de crianças na Praia do Guaibim?












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