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Vale do Jiquiriçá no radar global: a nova fronteira das terras raras brasileiras

  • edmaisfmsite
  • 27 de jul.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 28 de jul.

Corrida pelas Terras Raras: Interior da Bahia Entra no Radar Geopolítico Mundial





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O que antes parecia um assunto restrito aos grandes centros de decisão globais agora bate à porta do interior baiano. Os municípios de Mutuípe, Jiquiriçá e Ubaíra, localizados no Vale do Jiquiriçá, tornaram-se peças-chave em uma corrida internacional por terras raras — um grupo de 17 elementos químicos essenciais para a fabricação de tecnologias de ponta como carros elétricos, turbinas eólicas, satélites, baterias, smartphones e sistemas militares.


Apontadas como o “ouro do século XXI”, essas substâncias despertam o interesse de potências globais, em especial dos Estados Unidos, que sob o governo de Donald Trump voltou a priorizar os minerais estratégicos como tema central de sua agenda econômica e de segurança nacional.



A Sombra do Monopólio Chinês


Atualmente, a China responde por cerca de 70% da produção global de terras raras e 90% da capacidade mundial de refino, um processo complexo e tecnologicamente exigente. Esse domínio acende o alerta vermelho em países como os Estados Unidos, Japão e União Europeia, todos altamente dependentes da cadeia de fornecimento chinesa.


Nesse contexto, o subsolo brasileiro, ainda pouco explorado, passa a ser visto como uma possível alternativa para diversificar os fluxos globais desses minerais — e o Vale do Jiquiriçá se destaca como nova fronteira de exploração.



Mineração avança no Vale do Jiquiriçá


Nos últimos anos, o Governo Federal, por meio do Ministério de Minas e Energia e da Agência Nacional de Mineração (ANM), concedeu dezenas de autorizações para pesquisa mineral na região. O foco que antes era o ferro e a bauxita agora se volta principalmente para as terras raras.


A mineradora Borborema Mineração está à frente de parte dessas iniciativas. Com CNPJ registrado em Ubaíra desde 2021, a empresa atua também nos municípios de Jiquiriçá, Mutuípe e Jaguaquara. Em maio de 2025, a empresa obteve nova autorização oficial da ANM para realizar pesquisas de bauxita e terras raras em Mutuípe, conforme publicado no Diário Oficial da União.


Apesar da movimentação intensa, pouco se sabe sobre o real alcance das atividades. Moradores das zonas rurais de Jiquiriçá e Ubaíra relatam a presença de técnicos e sondagens em suas comunidades, mas dizem não ter sido informados oficialmente sobre os objetivos ou impactos das operações. Em 2023, denúncias feitas por moradores da região do Monte Alto resultaram em questionamentos às prefeituras — que alegaram desconhecimento — e à mineradora, que não respondeu.



Brasil sob os olhos do mundo


De acordo com geólogos e especialistas em recursos minerais, o Brasil detém a segunda maior reserva de terras raras do planeta, atrás apenas da China. A dimensão desse patrimônio tem colocado o país no centro de uma nova disputa geopolítica e industrial.


Na última semana, o governo dos Estados Unidos voltou a demonstrar interesse direto nas jazidas brasileiras. O encarregado de negócios da Embaixada dos EUA, Gabriel Escobar, reafirmou publicamente o desejo de estreitar relações com o Brasil no campo dos minerais estratégicos, citando terras raras, lítio, nióbio e cobre como prioridades americanas.


A fala ocorreu em meio à tensão diplomática gerada por uma nova tarifa de 50% imposta aos produtos brasileiros pelos EUA, prevista para entrar em vigor em agosto deste ano. Analistas veem nos recursos minerais uma possível “moeda de negociação” em futuros acordos bilaterais.



Riqueza estratégica, legislação ausente


Apesar do potencial mineral, o Brasil ainda carece de uma legislação específica que regule a exploração, o beneficiamento e a exportação de terras raras. O presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Raul Jungmann, já defendeu publicamente que esses elementos sejam tratados como patrimônio estratégico do povo brasileiro.


Hoje, boa parte das terras raras extraídas em território nacional é exportada em estado bruto, sem qualquer valor agregado, perpetuando o papel histórico do país como fornecedor de matérias-primas para países industrializados.


Enquanto isso, a China avança na liderança global por dominar todas as etapas da cadeia produtiva — da mineração ao refino e à fabricação de componentes industriais de alta tecnologia.



Nova corrida tecnológica e energética


As terras raras são fundamentais na transição global para uma economia de baixo carbono. Estão presentes em motores elétricos, turbinas eólicas, chips de computadores, sistemas de defesa, impressoras 3D, painéis solares e até combustíveis avançados.


Além disso, circulam especulações sobre a presença de lítio no Vale do Jiquiriçá — outro mineral estratégico, indispensável à produção de baterias para veículos elétricos.


Iniciativas tímidas, janela de oportunidade



O Ministério de Minas e Energia reconhece o momento como uma “janela de oportunidade” para o país. Recentemente, foram lançadas iniciativas como:


Projeto MagBras: focado na produção de ímãs permanentes com terras raras;


Linhas de financiamento de até R$ 5 bilhões para estruturar a cadeia nacional;


Mapeamentos geológicos estratégicos em áreas promissoras.



Mesmo assim, especialistas alertam que ainda falta articulação entre ciência, indústria e diplomacia para que o Brasil assuma o protagonismo que seu subsolo permite. Sem um projeto nacional consistente, o país corre o risco de repetir a velha fórmula: exportar matéria-prima e importar tecnologia.



Conclusão: o Vale no centro do tabuleiro global


O avanço da mineração no Vale do Jiquiriçá levanta uma série de dilemas. De um lado, a chance de desenvolvimento e protagonismo global. De outro, os riscos sociais, ambientais e econômicos de um modelo extrativista sem controle social ou legal.


O que está em jogo não é apenas a riqueza do subsolo baiano, mas o papel que o Brasil deseja desempenhar na nova ordem mundial movida a tecnologia, energia limpa e disputas geopolíticas.


O futuro pode estar enterrado no Vale do Jiquiriçá. A questão é: quem vai escavar, e com quais interesses?


Por Cláudio Cacau | Vale do Jiquiriçá – BA


Com colaboração de Mídia Bahia e PTN News e BNC


 
 
 

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