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ANIVERSÁRIO DE VALENÇA MOTIVA DEBATE NECESSÁRIO SOBRE SUA HISTÓRIA

Por *Rosângela Figueiredo





Uma contribuição para o debate sobre a história de Valença foi um relevante fruto colhido na repercussão gerada por trechos do meu livro “ORIGENS E RAÍZES – Valença da Bahia”, e publicados em cards da Prefeitura no último dia 10/11. Além de enriquecer nosso trabalho, a discussão atual é necessária e joga luz sobre os hiatos da nossa história.

Não sou historiadora e não tive (nem tenho) a pretensão de me aprofundar na pesquisa acadêmica em História. Sei que há trabalhos acadêmicos robustos sobre o trabalho escravo em Valença e arredores a partir do século XIX. Mas esses não englobam os séculos XVI a XVIII.

O trabalho escravo por aqui se inicia com o aprisionamento dos índios, submetendo-os à escravização no início do período colonial. Mas os índios resistiram a esse processo, reagindo, atacando as feitorias e impedindo o avanço dos colonos.

Daí, ao se iniciar o ciclo açucareiro no final do século XVI, houve em Valença e Cairu a instalação de alguns engenhos que se utilizaram de trabalho escravo por negros africanos. Mas, em meados da década de 1670, o plantio da cana-de-açucar foi proibido pelo então governador Antônio Furtado, o que resultou no fechamento dos engenhos. (RISÉRIO 2003), por pressão dos donos de engenhos do Recôncavo, que queriam ver atendidas suas necessidades de fornecimento da farinha e pescados por esta região.

Com o fechamento dos engenhos, os poucos negros remanescentes foram remanejados para os cultivos de subsistência e trabalhos domésticos. Enquanto isso, Stuart Shwarz, no livro Escravos, Roceiros, Rebeldes, relata que esta região era rota de escravos, fugindo das fazendas do Recôncavo, ou vindos pelo tráfico ilegal, fazendo com que a região concentrasse a maior quantidade de “mocambos” da Bahia.

Portanto, negros escravizados estiveram aqui entre o final do século XVI e até meados do XVII, nos poucos engenhos existentes. Após isso, estiveram isolados, como formas de resistência e sobrevivência nos mocambos. Nessa situação, pouco interferiram na miscigenação e na cultura local, até a primeira metade do século XIX. E vieram mais maciçamente após a Abolicão da Escravatura, em 1888, quando, então, passam a contribuir de forma predominante e riquissima para a cultura afro-brasileira, como tem sido até hoje.

Além de também escravizados, os índios praticamente desaparecem da história em meados do século XXIII. Demonstrei essa invisibilidade no meu livro para chamar atenção a um racismo estrutural tão cruel quanto o sofrido pelos negros, senão pior, dado o seu apagamento histórico oficial.

Assim, agradeço à professora Silvana Andrade e a todos os que se dedicam a trabalhos acadêmicos como historiadores. São contribuições valiosas para o despertamento de nossa memória histórico-cultural, tão desconhecida pelas gerações atuais. As comunidades tradicionais como os caiçaras e os quilombolas são exemplo disso.

Sempre penso que não se pode amar o que se ignora. Como memorialista, transitei entre a história e a literatura, impregnada da sensação de que o que nos é familiar, de tão familiar, nos é desconhecido. Creio que dei a minha contribuição da melhor forma que pude. Suscitar o debate é, no mínimo, despertar nossa memória identitária tão desconhecida – nossas origens e raízes.

Sobre a autora:

*Rosângela Góes de Queiroz Figueiredo é professora da Rede Estadual de Ensino da Bahia, graduada em Letras e especialista em Avaliação. Escritora, membro da Academia de Letras do Recôncavo-ALER, e da Academia de Educação, Letras e Artes de Valença-AVELA. Estudiosa da história de Valença, em 2019, escreveu o livro “Origens e Raízes: Valença da Bahia”, ainda não publicado, mas já com registro expedido pela Diretoria Executiva dos Direitos Autorais da Fundação Biblioteca Nacional.

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