Afinal, a Cachoeira da Pancada Grande é de Igrapiúna ou de Ituberá?
- edmaisfmsite
- há 2 dias
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Uma disputa histórica que revela o potencial – e o abandono – das belezas da Costa do Dendê**
A Cachoeira da Pancada Grande é, sem dúvida, um dos cartões-postais mais impressionantes da Costa do Dendê. Suas quedas volumosas, cenário exuberante e fácil acesso fazem dela uma das paisagens naturais mais fotografadas e visitadas do Baixo Sul. Mas uma polêmica antiga sempre retorna entre moradores, visitantes e gestores públicos: afinal, a quem pertence a Pancada Grande – Igrapiúna ou Ituberá?
A confusão não é nova. A cachoeira está situada justamente na divisa entre os dois municípios, o que ao longo dos anos gerou debates acalorados, apropriações políticas, discursos de ambas as partes e, principalmente, a ausência de um estudo técnico que encerrasse a discussão. Até hoje, nunca foi apresentado um levantamento geográfico oficial, realizado pelo Governo do Estado ou órgão competente, que delimite claramente a jurisdição da área.
O lado prático: acesso por Ituberá
Apesar da polêmica territorial, na prática, o que define o comportamento do público é o acesso.
A entrada da Cachoeira da Pancada Grande fica pelo lado de Ituberá, a apenas 1 km do centro da cidade, com estrada estruturada e sinalização. Já o lado de Igrapiúna encontra-se dentro de uma área de proteção da reserva da Michelim, localizada a aproximadamente 8 km do município, o que inviabiliza a criação de uma entrada turística por essa rota.
Com isso, Ituberá assumiu ao longo das décadas o protagonismo sobre o atrativo. A Secretaria Municipal de Turismo investe em divulgação, roteiros, ações de preservação e logística, transformando a cachoeira em seu principal cartão-postal. Embora o município também possua outros pontos de destaque, como Pratigi, Barra de Serinhaém e regiões ribeirinhas, é a Pancada Grande que sustenta o imaginário turístico local e atrai visitantes de toda a Bahia.
Do outro lado: Igrapiúna e o potencial inexplorado
Em contraste, Igrapiúna possui um conjunto extraordinário de belezas naturais, mas historicamente pouco exploradas pelo poder público.
Além da Pancada Grande, que poderia ser trabalhada em parceria interestadual ou com estrutura própria pelo lado da reserva (seguindo as normas ambientais), o município abriga:
Praia do Contrato, uma joia escondida da Baía de Camamu
Pedra Furada, que hoje é divulgada e explorada pelo município vizinho de Camamu
Comunidades tradicionais de grande valor cultural e ambiental
Áreas preservadas que teriam potencial para ecoturismo organizado
A falta de investimento, planejamento e gestão turística fez com que muitos desses atrativos permanecessem desconhecidos até mesmo pelos moradores da região. Enquanto isso, municípios vizinhos seguem ocupando os espaços de promoção e renda que deveriam ser compartilhados.
Muito além da disputa: a beleza é de toda a Costa do Dendê
Se existe algo incontestável é que a Pancada Grande não pertence apenas a um município – ela pertence à Costa do Dendê e ao povo do Baixo Sul.
A região possui um dos maiores potenciais turísticos integrados da Bahia, com praias, rios, cachoeiras, manguezais, ilhas, cultura quilombola e uma das naturezas mais ricas do estado. Mas ainda sofre com falta de articulação política e com gestões que não aproveitam o que têm nas mãos.
A disputa entre Igrapiúna e Ituberá poderia ser substituída por cooperação regional, com projetos de turismo integrado, trilhas intermunicipais, regulamentação ambiental conjunta e promoção unificada da Costa do Dendê como destino.
O que falta? Competência, estudo técnico e visão de futuro
Para encerrar a polêmica territorial, seria necessário:
Um estudo geográfico oficial, feito por instituições como SEI, IBGE ou CAR, delimitando com precisão a área
A criação de um plano conjunto de uso turístico, respeitando a reserva ambiental
Investimento em infraestrutura e divulgação por ambos os municípios
Uma visão madura de que a beleza natural é patrimônio coletivo da região
Até lá, a realidade permanece: a Pancada Grande é visitada por Ituberá, ignorada por Igrapiúna e admirada por toda a Costa do Dendê.
E enquanto se discute “de quem é”, perde-se a oportunidade de transformar esse presente da natureza em desenvolvimento, renda, preservação e orgulho regional.

foto: Gabriel Santana

Foto: Emily Pereira

Foto: Dielle Paty












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